terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Graça Foster: Crachá número 1

Graça Foster: Crachá número 1

Graça Foster manterá investimentos na Petrobras e diz que combustível não sobe

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RIO - Primeira mulher a assumir a presidência de uma empresa de petróleo no mundo, Maria das Graças Foster, 58 anos, foi empossada nesta segunda-feira na cerimônia mais concorrida da história da estatal. Com a participação da presidente Dilma Rousseff, que a chamou carinhosamente de “graciosa”, o evento contou com 11 ministros e oito governadores, além de centenas de empresários. Graça jurou lealdade à presidente Dilma, de quem é amiga, e prometeu que dará continuidade ao trabalho desenvolvido pelo seu antecessor, José Sérgio Gabrielli — que vai trabalhar no governo da Bahia, Jaques Wagner. Após a solenidade, em entrevista coletiva, afirmou que a Petrobras manterá sua política de reajuste dos combustíveis de longo prazo.
— É política de longo prazo, é um mantra. Em que momento vai se dar o aumento do preço do combustível, isso não está programado — garantiu.
A defasagem no preço dos combustíveis em relação ao mercado internacional foi a principal causa da queda à metade no lucro da companhia no último trimestre do ano passado, o que gerou um recuo de mais de 8% nas ações na última sexta-feira. Na segunda, no entanto, as ações preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras, subiram 3,66%, para R$ 24,36.
Graça informou ainda que a Petrobras não vai aumentar seus investimentos na revisão do Plano de Negócios 2012/16. Segundo a executiva, serão mantidos os US$ 224,7 bilhões do plano anterior.
Em seu discurso de posse, Graça citou sua mãe e lembrou o passado humilde, na época em que entrou para a companhia, há 31 anos, como estagiária.
— Eu sou a Graça, filha da Dona Terezinha, funcionária da Petrobras, engenheira, que reconhece seu crachá como seu documento de identidade — afirmou Graça, que após receber o crachá número 1 de presidente, não se conteve e mostrou-o, como um troféu, a ministros e governadores que estavam no palco.
Dilma critica ‘ventos privatistas’
Apesar do grande número de autoridades, a solenidade foi rápida, durou cerca de uma hora. O empresário Eike Batista, homem mais rico do Brasil, segundo a “Forbes”, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, e Otávio Azevedo, presidente da construtora Andrade Gutierrez, foram alguns dos executivos que compareceram. Murilo Ferreira, presidente da Vale, também participou da cerimônia, mas evitou fazer comentários, dizendo apenas que “hoje (ontem) é a vez da Petrobras”.
Em tom emotivo, Dilma se mostrou íntima tanto da nova presidente, como de Gabrielli. Ela ressaltou a importância de uma mulher assumir o cargo:
— Eu venho, na condição da primeira presidenta eleita no Brasil, para assistir à posse da primeira mulher presidenta de uma empresa de petróleo e gás no mundo.
Em tom ufanista, quando lembrou a frase que disse em 2003 — “Se a Petrobras é possível, então o Brasil é possível” — Dilma aproveitou a ocasião para criticar, indiretamente, a política de privatização de Fernando Henrique Cardoso.
— A Petrobras é poderosa em escala mundial e é estratégica dentro do Brasil. Felizmente, sobreviveu a todos os ventos privatistas e persistiu como empresa brasileira, sob controle do povo brasileiro, e hoje exerce papel fundamental em nosso modelo de desenvolvimento — afirmou a presidente, lembrando que a estatal nasceu de um movimento popular e surgiu graças a Getúlio Vargas.
Dilma citou números para ressaltar a saúde financeira da Petrobras e disse que não vai permitir que a empresa deixe de oferecer resultados aos acionistas. Exultou o pré-sal e várias vezes usou a expressão “orgulho” para se referir ao sentimento que a população brasileira tem sobre a empresa.
— A Petrobras investe e investirá no Brasil, porque este país é sua fonte de energia, fonte do petróleo e do gás que ela extrai e produz e, ao mesmo tempo, seu maior e mais importante mercado. É isso que são o Brasil e a Petrobras: dois parceiros. E terminou seu discurso de uma forma carinhosa:
— Boa sorte, com muito trabalho, presidenta Maria das Graças Foster. E conte comigo. E agora é tudo contigo, Graciosa.
Já Gabrielli, em seu discurso de despedida, listou as conquistas da estatal sob sua gestão, iniciada em meados de 2005, como a autossuficiência, a expansão do investimento em refino e a política de conteúdo nacional. Segundo ele, “sai com a sensação de ver cumprido”, e levará para a Bahia aquilo que aprendeu na estatal.
— O governador Jaques Wagner, que sempre me apoiou na Petrobras, agora me oferece a oportunidade de compor a sua equipe na Bahia. É hora de chegada na Bahia. Para a Bahia me vou. Saio triste porque eu encontrei pessoas extraordinárias nos nove anos que aqui fiquei — disse Gabrielli.
Após entregar seu crachá para Graça, o executivo citou versos de músicas de Paulinho da Viola, do “grande” Gonzaguinha e da cantora baiana Daniela Mercury:
— Dona Canô chamou, eu vou. Dona Canô chamou, eu já me vou. Antes que o rio esteja cheio. Tenho que atravessar.
O executivo ainda brincou com o time de futebol da nova presidente:
— Mas saio feliz porque sei que a empresa será presidida por uma pessoa de extrema capacidade. Graça vai conduzir a Petrobras com a certeza de quem a conhece nos mínimos detalhes e já jogou em varias posições. Enfim, uma craque. Pena que é do Botafogo.
Políticos, empresários e executivos elogiaram a executiva. Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), disse que a escolha de Graça é ótima:
— Eu já trabalhei com ela. É uma excelente gestora e tem uma capacidade técnica enorme. Conjuga o lado técnico e gerencial.
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Eletrobras, afirmou que a escolha valoriza o técnico de carreira da estatal, já que a executiva não vem da política, embora Gabrielli tenha feito uma boa gestão.
— Eu me preocupo apenas com a produção, já que Guilherme Estrella (ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, que está se aposentando) teve um papel importante na condução do conteúdo nacional — disse Pinguelli.
Graça afirmou que não fará muitas mudanças nos quadros da companhia. Disse que serão mantidos os atuais diretores de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, Financeiro, Almir Barbassa, de Engenharia, Renato Duque, e Internacional, Jorge Zelada. No lugar de Estrella, entra José Formigli, de perfil técnico. No lugar de Graça, na diretoria de Gás e Energia, assume José Alcides Santoro Martins

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